Alimentação na síndrome de down
Postado em: 26/01/2021
A importância da alimentação
Alimentação deve ser um tema de preocupação de todas as famílias. Nos últimos anos, muitos estudos vêm relatando o papel, não só nutricional, mas também relacionado a imunidade, ao envelhecimento celular, à produção hormonal, interação entre os órgãos e sistemas, otimização e redução de características individuais relacionadas a intolerância ou sensibilidades, entre outros fatores da alimentação. O ato de comer exige cuidado e somos compostos daquilo que ingerimos.
E quando nosso filho tem uma determinada particularidade como a síndrome de down? Muito ainda está para ser descoberto, mas até o momento acreditamos que a partir de uma alimentação saudável e focada podemos potencializar o desenvolvimento destas crianças e reduzir os possíveis eventos adversos.
Alimentação na síndrome de down: O papel do zinco
O zinco é um micronutriente que está bastante ligado ao sistema imunológico, à cicatrização, ao crescimento, às funções cognitivas (cerebrais) e ao antienvelhecimento, ou seja, a antioxidação.
O processo oxidativo causa danos e morte celular e é algo que ocorre ao longo da vida, conhecido como o processo natural de envelhecimento. Na T21 esse processo de oxidação está acelerando e, portanto, o envelhecimento ocorre mais rápido. Além disso, a imunidade e o desenvolvimento neurológico podem ter algum comprometimento.
O cromossomo 21 é responsável por várias reações que utilizam zinco e a presença do cromossomo a mais, acaba por aumentar sua utilização nestas pessoas. Por isso, consideramos que a necessidade desse elemento está aumentada nestes indivíduos. O quanto aumentada? Não sabemos, mas algo em torno de 50% a mais parece razoável dado 50% a mais de material genético.
Quais alimentos possuem zinco?
Frutos do mar como ostra e carne vermelha são grandes fontes de zinco, mas não devem ser consumidos em excesso por outros motivos. Então foquem em grão de bico e lentilha (sempre deixando de molho antes), ovo, semente de abóbora e gergelim e castanhas como castanha de caju, nozes e amêndoas.
Atenção com as gorduras ômegas
Ambos os ômegas são gorduras, chamadas também de ácidos graxos poli-insaturados. Podem vir de origem animal ou vegetal e tem como funções aspectos importantes do funcionamento do organismo, ainda que muito ainda precise ser entendido melhor.
O mecanismo é bastante complexo, mas para simplificar podemos dizer que após a ingestão, elas são metabolizadas em vias paralelas, b mas que utilizam enzimas em comuns. Logo, estas conversões estão relacionadas e a ingesta de um elemento pode interferir na conversão do outro.
Ao final deste processo, temos substâncias conhecidas como ARA, EPA e DHA, também gorduras, intrinsicamente ligadas a processos inflamatórios e construção de neurônios.
Quais os impactos da dieta rica em gorduras?
No geral, a dieta brasileira costuma ser rica em gorduras de origem animal, como ovos, leite e carne vermelha, com maior ingesta de ômega 6 e maior conversão em ARA.
Por sua vez, a ingesta de ômega 3, encontrado em peixes como sardinha, arenque, salmão, atum e carapau (cavalinha) tende a ser baixa, com piores níveis de DHA e EPA.
Enquanto o excesso de ômega 6 está relacionado a um aumento de processos inflamatórios, que, quando prolongado, termina na instalação de determinadas doenças e na aceleração do envelhecimento (processo oxidativo, lembram?), o aumento do ômega 3 parece ser capaz de diminuir diversas vias da inflamação, assim como cadeias de gorduras que aumentam o risco cardiovascular.
No equilíbrio destas duas gorduras parece estar um caminho para uma vida mais saudável e longeva.
Já falamos muitas vezes sobre o processo inflamatório mais acelerado presente na T21 e, consequentemente, o envelhecimento precoce. Pensando nisso, uma dieta com aumento de ômega 3, sem dúvida traz benefícios.
Outro ponto interessante relacionado a estas gorduras é o sistema neurológico. Nossos neurônios são envolvidos por capas de gordura e para crescerem e aumentarem sua rede de conexão diversas cadeias de lipídeos são necessárias. Dentre estas, novamente vemos a importância do DHA e EPA, componentes muito encontrados no leite materno.
Alimentos antioxidantes
Quando pensamos em um bom status nutricional, além de analisarmos o peso e IMC, é fundamental modularmos a interação entre os processos inflamatório e estresse oxidativo. Muitos estudos já elucidaram melhor essa complexa relação e sua ligação com o sistema imunológico.
Estes elementos incluem os ômegas 3, vitamina A, vitamina C, polifenóis e carotenoides, todos presentes amplamente na dieta conhecido como “plant-based” – baseada em plantas.
Além disso, as fibras presentes nas plantas aumentam o poder anti-inflamatório através da fermentação feita por bactérias presentes no nosso intestino, formando outros ácidos graxos envolvidos nessa regulação.
Diminuindo esse processo oxidativo, que pode ser visto simplesmente como lesão, envelhecimento e morte das nossas células pelo corpo em qualquer órgão, melhoramos nosso sistema imunológico e diminuímos possíveis doenças relacionadas como diabetes, hipertensão, colesterol elevado, infecções entre outras.
Quais alimentos devem ser acrescentados?
Reduzir consumo de carne vermelha e aumentar verduras e legumes já é um ótimo passo. Focando nos antioxidantes lembre-se do seguinte:
- Cúrcuma: tempero fácil, salpique sobre a comida ou cozinhe com ele;
- Aveia: dificulta absorção da gordura;
- Azeite de oliva: sempre pouca quantidade (2 colheres de sopa dia);
- Frutas cítricas: além da laranja, kiwi, acerola, lima da Pérsia e goiaba são boas fontes de vitamina C;
- Frutas vermelhas: morango, framboesa, amora, uvas potentes elementos antioxidantes;
- Linhaça: fonte de fibra e ômega 3;
- Óleo de gergelim: fonte de vitaminas;
- Peixes: olha o post do ômega 3;
- Semente de abóbora e girassol.
O que são os alimentos biogênicos e sua função?
Os alimentos biogênicos, portanto, seriam aqueles capazes de interferir na tireoide através do bloqueio do iodo (elemento essencial na formação do hormônio tireoidiano), alteração da TPO (enzima que regula a formação deste mesmo hormônio) ou reduzindo o TSH (hormônio liberado pelo cérebro que faz com que a tireoide produza o hormônio tireoidiano).
Importante ressaltarmos que dos estudos existentes fazendo esta correlação com a tireoide todos são em animais e com consumo excessivo destes alimentos. Os trabalhos observacionais em humanos tinham também associado a deficiência em iodo, elemento essencial e que normalmente está presente em boa quantidade na população geral, principalmente no sal de cozinha que consumimos.
A tireoide na síndrome de down
Sabemos que a população com síndrome de down possui incidência elevada para alterações na tireoide então, claro que este assunto nos preocupa.
O bom senso também deveria reger as recomendações médicas e, assim, o consumo de absolutamente nada em excesso é benéfico. Assim sendo, os tais alimentos biogênicos podem ser consumidos em moderação e com atenção especial a indivíduos que possuam hipotireoidismo. Além disso, alguns destes alimentos são mais calóricos e pouco nutritivos e, pela preocupação com excesso de peso, também devem ser consumidos somente eventualmente.
E afinal, quais são esses alimentos? Dentre eles estão: mandioca, fava, milho, batata doce, couve de Bruxelas, couve-flor, mostarda, bambu, tofu, edamame e soja.
E, claro, no acompanhamento de uma criança ou adulto com síndrome de down, a dosagem de hormônios tireoidianos faz parte da rotina. Logo, qualquer alteração será identificada precocemente.