Smartphones prejudicam a experiência das crianças em sala de aula?
Postado em: 21/11/2023
Um em cada quatro países do mundo proíbe ou estabelece regras para o uso do celular em sala de aula. É o que mostra um estudo da Unesco, divulgado em julho de 2023. Neste ano, o tema do Relatório Global de Monitoramento da Educação tem foco no uso de tecnologia nas escolas pela primeira vez.
Intitulado A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?, o documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura aponta os impactos do smartphone na aprendizagem e na concentração dos estudantes.
De acordo com a pesquisa, quase dois em cada três professores concordam que o uso excessivo de celulares – assim como de outros dispositivos, como computadores e tablets –, distrai os alunos e resulta em uma redução no desempenho educacional na sala de aula.
Segundo Manos Antoninis, diretor do relatório desde 2017, é preciso ensinar para as crianças a habilidade de conviver tanto com a tecnologia quanto sem ela, capacitando-as a extrair o que é necessário da abundância de informações, ao mesmo tempo em que as orientamos a descartar o que não é necessário. A tecnologia deve ser um apoio, sem jamais obscurecer as interações humanas no processo de ensino e aprendizagem.
Celulares banidos
A Finlândia e a Holanda estão entre os países que proibiram recentemente o uso de celulares em sala de aula. Além disso, os smartphones foram banidos total ou parcialmente na Espanha, Suíça, Portugal, México, Letônia, Estados Unidos, Escócia e em províncias do Canadá.
Na França, por exemplo, não há proibição, mas há políticas para regular o uso. O aparelho pode ser utilizado por alguns grupos de alunos, como pessoas com deficiência, ou quando está claro o uso pedagógico. Por outro lado, países asiáticos e africanos são os que mais têm leis sobre o assunto, como Uzbequistão e Guiné Equatorial.
Em Bangladesh, nem os professores podem usar o dispositivo nas aulas. No Brasil, não há lei que proíba o uso de celulares, embora as escolas particulares tenham suas regras sobre o uso do aparelho.
“As notificações recebidas ou a mera proximidade do celular podem ser uma distração, levando aos alunos a perderem o foco em suas tarefas. O uso de smartphones nas salas de aula leva os estudantes a se envolverem em atividades não relacionadas à escola, o que afeta a memória e a compreensão”, diz o relatório.
A Dra. Anna Dominguez Bohn, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), comenta que, após uma distração, um aluno pode levar até 20 minutos para retomar o foco e a atenção. Ela explica que as inquietações surgem com a simples percepção de notificações de redes sociais, aplicativos ou jogos instalados, assim como distrações a partir de uma mensagem na tela fechada. “Agora, imagine vários eventos como esses ocorrendo ao longo do dia?”, questiona a especialista a respeito do efeito desse comportamento no processo de aprendizado.
O estudo faz referência a uma meta-análise de pesquisas sobre a relação entre o uso de telefones celulares pelos estudantes e seu desempenho educacional. O trabalho foi feito com alunos desde a pré-escola até o ensino superior, em 14 países. O resultado mostra efeitos negativos, com maior impacto no nível universitário.
Desigualdades
A Unesco destaca ainda que a desigualdade no acesso à tecnologia também pode agravar a desigualdade no acesso à educação, e não mitigar o problema – ao contrário do que muitos pensam. De acordo com a organização, a digitalização da educação beneficia estudantes já privilegiados e marginaliza outros.
Durante o fechamento das escolas devido à pandemia da Covid-19, surgiram preocupações sobre essa questão, e a Unesco aponta que o rápido avanço tecnológico está pressionando os educadores a tomar decisões rápidas em relação à legislação e regulamentação. A preparação e treinamento adequados dos professores são essenciais para o uso desse serviço, o que representa um desafio em muitos países, inclusive o Brasil.
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